domingo, 10 de abril de 2011

Belchior ou o lado cigano de todos nós



           Quando criança, escutava Belchior. Tinha uns 8 ou 9 anos, no carro dirigido pela ex-mulher de meu irmão era trilha sonora do deslocamento Caxangá-Camaragibe. A voz dele poderia soar engraçada, mas as letras impregnavam minha mente, mesmo sendo pirralho. Anos mais tarde suas composições me parecem confissões de uma vida nômade, uma vida cigana, um retrato das angústias dele que podem ser de cada um de nós também.

            Em "Tudo outra vez" fica latente o sentimento de deslocamento de um exilado político na europa, angústia sofrida por muitos na época do governo militar, a música nos deixa arrasados com uma frase:"...Ainda sou estudante da vida que eu quero dar."

           Se quiser ficar arrasado escute "Divina Comédia Humana", um desabafo sobre a transitoriedade-permanência do amor, e se quiser ter o coração dilacerado escute "À palo seco", retrato da angústia da geração dos anos 70.

           Mas, então por que ouvir músicas de um compositor/intérprete que se esconde, foge, enfim se tornou a personificação de suas obras ? Porque é um reflexo do Brasil, de todos nós, eternamente procurando um lugar para nos fixarmos, ou para jamais estabelecermos bases, apenas caminhar.

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